Deita
aqui, mas deita sem pressa, deita a semana inteira. Vem e se encaixa no meu
abraço, até que a lua dê espaço e o sol invada a nossa cama, daí a gente levanta só
pra poder deitar de novo mais tarde.
Deita comigo até que os olhos se revirem, até que os lábios sussurrem, os
lençóis se embolem e o controle da TV desabe. Deita
comigo até não termos mais forças e nem motivos para ficarmos de pé.
Deita
aqui, até que o café esfrie, até que a cerveja esquente. Deita aqui e me olha
com esses olhos assustados, fica do meu lado até as folhas despencarem e o frio
bater à porta, e, quando as flores brotarem e anunciarem outra estação, deita
comigo no parque, porque é primavera, meu bem, morde uma fruta enquanto as
crianças correm no gramado, deita comigo porque, nesta época, a vista da Quinta é
ainda melhor.
Deita
comigo em São Cristóvão, deita comigo no Arpoador, deita comigo em Santa
Tereza, e, quando a barriga estiver doendo de tanto rirmos com os amigos, deita
comigo no táxi, ou melhor, podemos ir sentados pra evitar o enjoo, mas quando chegarmos
em casa, deita do meu lado, porque o teto não cobra ingresso pra gente vê-lo
girando.
Deita aqui
até a sexta virar segunda, depois me leva contigo pro consultório, que eu te
trago comigo pro escritório, então deitamos de novo, no conforto do amor
tranquilo, naquela rede onde o coração repousa, e se eu, sem querer, te magoar,
baixa a guarda, deita aqui e me perdoa.
Vem e
deita no meu ombro, enquanto eu pego no sono assistindo nossa série preferida e
só desperte quando meu braço estiver formigando, porque o que faz e sempre vai
fazer você especial pra mim, são noites como esta.
De braços
formigando.